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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Doutrina Espírita - O Homem Trino

Olá,

As investigações e os estudos psicológicos nos mostram o desenvolvimento do homem como um processo psicogenético.
 Os dados da Psicologia da Criança e da Psicologia da Adolescência, partindo da indiferenciação psíquica das primeiras fases da infância, levam-nos à definição do “eu” e à elaboração da personalidade, como afirmação da consciência, em sua plenitude, no “agora” existencial.
Mas todos esses dados, ao contrário do que pretendem as correntes de pensamento materialista ou positivista, comprovam o pressuposto religioso e filosófico da existência do espírito. A própria ontologia fenomenológica do existencialismo sartreano não pode fugir a essa realidade, ao colocar o problema do ser na existência como um desenvolvimento dialético do “em si” hegeliano.
A fase infantil de indiferenciação psíquica é exatamente aquela em que o ser, na sua forma apriorística, como “em si”, e portanto na sua anterioridade espiritual, luta para se integrar na existência. Essa luta se resolve na progressiva definição do “eu” isto é, no domínio progressivo do instrumento físico da manifestação, pelo espírito que nele se manifesta.
A elaboração da personalidade atual, muito longe de ser um processo improvisado e imediato, revela a presença de uma herança psíquica, e portanto de elementos anteriores, que em vão o materialismo científico pretende reduzir às leis da hereditariedade biológica. Essa herança é, antes de tudo, como afirma René Hubert, “uma realidade subjetiva individual e irredutível”, portanto uma consciência, um espírito, que não se elabora no presente, mas apenas reelabora os instrumentos da sua manifestação atual.
O Espiritismo esclarece o que podemos chamar “a mecânica dessa manifestação”, através de uma concepção trinária do homem. O elemento fundamental da evolução psicogenética é o espírito, o próprio ser que se projeta na existência. Nele está o poder que aglutina os demais elementos, que os coordena e os põe em desenvolvimento. Em segundo lugar aparece o perispírito ou corpo espiritual, duplicata energética do corpo físico, ou o modelo energético deste, como queria Claude Bernard. E em terceiro lugar, o próprio corpo físico, resultante de um verdadeiro processo dialético, síntese orgânica do espírito e do perispírito, que permite a presença do ser na existência.
Essa concepção não foi decalcada de nenhuma outra, mas resultou das experiências e dos diálogos de Kardec com os Espíritos, numa época e num país em que as concepções místicas orientais não encontravam clima para florescer. Convém ressaltar, ainda, que as experiências mediúnicas de Kardec foram confirmadas por experimentações científicas, realizadas por cientistas não-espíritas.
O homem se apresenta, assim, como a conjugação de três entidades distintas, numa única manifestação. E isso levanta a ponta do véu que encobre o mistério da trindade divina, revelando mais profundamente a natureza antropomórfica do velho dogma, presente em todas as grandes religiões antigas. Por outro lado, essa concepção nos faz compreender a existência, no plano coletivo, de uma fase de misticismo indiferenciado, ou de indiferenciação mística, em que a realidade espiritual, confundida com a material, assemelha-se à indiferenciação psíquica das fases infantis, no plano individual. O dogmatismo então se explica, da mesma maneira, como a necessidade de elaboração racional da realidade, que se exprime através do apriorismo absolutista da intuição. O dogma de fé das religiões equivale ao “quero” irracional das crianças, que querem e exigem, mesmo sem saberem por quê.
As três funções da consciência – a teórica, a prática e a estética – têm suas raízes, portanto, na própria estrutura tríplice do homem. Se definirmos a primeira dessas funções como sendo a razão, o esquema de representações teóricas da realidade objetiva, compreenderemos que o homem, antes de conhecer e compreender, vive e experimenta. Essa vivência, que lhe dá a experiência vital, da qual decorrem as categorias da razão, pelo fato mesmo de se desenvolver num processo, de se desdobrar, separa a razão do sentimento, estabelece dois planos distintos na consciência.
 O que estava fundido na indiferenciação psíquica, separa-se, ao diferenciar-se. A seguir, o desenvolvimento da razão, absorvendo o interesse do homem pelo conhecimento do mundo, provoca a alienação do espírito. É assim que o materialismo aparece, na História, como uma flor de estufa, um produto artificial da razão, elaborado pelas elites intelectuais, sem jamais penetrar as camadas profundas da vida social.
É por isso que nunca houve, e jamais haverá, um povo materialista e ateu. As fases racionais de descrença nada mais são do que momentos de desequilíbrio, que acabam reconduzindo os homens ao espiritualismo, através da síntese estética.
A concepção espírita do homem, como unidade trina, tanto se opõe ao dualismo religioso, quanto ao monismo materialista e ao pluralismo ocultista. Não obstante, como essa concepção é uma síntese estética, nela encontramos os elementos opostos, reduzidos ao equilíbrio da fusão.
 Assim, quando Kardec define a alma como sendo o espírito-encarnado, temos a dualidade alma-como; quando define o corpo como produção ou projeção do próprio espírito, temos o monismo; e quando define o espírito como entidade independente, possuindo as diversas funções da consciência e capaz de projetá-las por várias maneiras, no plano espiritual e no plano material, temos o pluralismo. Os vários corpos da concepção septenária do ocultismo apresentam-se como simples peças do mecanismo de manifestação do espírito.
As pessoas que consideram simplista a concepção trinária do homem, e preferem a septenária, tendem para o pluralismo afetivo. As que, ao contrário, a consideram complexa, e preferem a concepção monista, de tipo heckeliano ou marxista, tendem para o monismo materialista. O homem trino é, portanto, uma concepção típica do Espiritismo, resultante da síntese dialética que se processou no desenvolvimento histórico da humanidade. Uma concepção que assinala a maturidade espiritual do homem, pois representa a superação das fases de sincretismo afetivo e de egocentrismo racional, tanto existentes no indivíduo, quanto na espécie.


Josè Herculano Pires                      O Homem Novo


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