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domingo, 28 de abril de 2013

Viagem entre os universos e os mundos - As humanidades desconhecidas III

Olá,

...Não tinham a forma humana terrestre. Eram criaturas evidentemente organizadas para viver no ar.
 Pareciam tecidas de luz. De longe, tomei-as, a princípio, por libélulas: tinham-lhes a forma esbelta e elegante, as vastas asas, a vivacidade, a ligeireza. Mas, examinando-as de mais perto, notei seu porte, que não era inferior ao nosso, e reconheci, pela expressão dos olhares, que não eram animais.
As suas cabeças pareciam-se igualmente com as das libélulas, e, à semelhança dessas criaturas aéreas, não tinham pernas. A música deliciosa que eu ouvia não era senão o ruído de seu vôo.

Eram numerosíssimas, vários milhares talvez.
Viam-se, nos cimos das montanha, plantas que não eram nem árvores, nem flores.
Erguiam débeis hastes a enormes alturas, e esses talos ramificados sustentavam, parecendo braços estendidos, amplas taças em forma de tulipas.


Essas plantas eram animadas, pelo menos no grau das nossas sensitivas, e mais ainda; e, igual ao desmódio (planta que tem forma de borboleta) de folhas móveis, manifestavam por movimentos as suas impressões interiores. Esses pequenos bosques formavam verdadeiras cidades vegetais.
 Os habitantes daquele mundo não tinham outras moradas além de tais plantas, e era no meio dessas perfumadas sensitivas que repousavam, quando não flutuavam nos ares.
– Este mundo parece fantástico – disse Urânia – e a ti próprio perguntas que idéias podem ter tais seres, que costumes, que história, que espécie de artes, de literatura e de ciências.
Longo seria responder a todas as perguntas que poderias fazer.
Fica sabendo unicamente que seus olhos são superiores aos melhores telescópios; que seu sistema nervoso vibra à passagem de um cometa e descobre eletricamente fatos que na Terra jamais se conhecerão.
Os órgãos que estás vendo abaixo das asas lhes servem de mãos, mais hábeis que as vossas.
Por imprensa têm eles a fotografia direta dos acontecimentos e a fixação fônica das próprias palavras. Não se ocupam, de resto, senão de pesquisas científicas, isto é, do estudo da Natureza.
As três paixões que absorvem a maior parte da vida terrestre, o ávido desejo da riqueza, a ambição política e o amor lhes são desconhecidas, porque de nada carecem para viver, nem há divisões internacionais, nem outro governo além de um conselho de administração, e porque são andróginos (ambisséxuos).
– Andróginos! repliquei. E ousei acrescentar: Será melhor?
– Coisa diversa. São grandes perturbações a menos em uma Humanidade.
 É preciso – continuou ela – desprender-se inteiramente das sensações e das idéias terrenas, para estar em situação de compreender a diversidade infinita manifestada pelas diferentes formas da Criação.
De igual modo que sobre o vosso planeta as espécies têm mudado de idade em idade, desde os seres tão esquisitos das primeiras épocas geológicas até o aparecimento da Humanidade; de igual maneira que ainda agora a população animal e vegetal da Terra é composta das mais diversas formas, desde o homem ao coral, desde a ave ao peixe, desde o elefante à borboleta; assim também, e em uma extensão incomparavelmente mais vasta, entre as inumeráveis terras do Céu, as forças da Natureza têm dado origem a uma infinita diversidade de seres e de coisas.
A forma das criaturas é, em cada mundo, o resultado dos elementos especiais a cada globo, substância, calor, luz, eletricidade, densidade, peso.
 As formas, os órgãos, o número dos sentidos – vós outros tendes apenas cinco, e assim mesmo bastante pobres – dependem das condições vitais de cada esfera.
A vida é terrestre na Terra, marciana em Marte, saturniana em Saturno, netuniana em Netuno, em resumo, apropriada a cada mansão, ou, para dizer mais rigorosamente ainda, produzida e desenvolvida por esse mundo em particular, conforme o seu estado orgânico, e segundo uma lei primordial a que obedece a Natureza inteira: a lei do progresso.
Enquanto ela me falava, tinha eu acompanhado com o olhar o vôo dos seres aéreos para a cidade florida e vira com espanto as plantas a se moverem, erguendo-se ou abaixando-se para recebê-los; o sol verde descera abaixo do horizonte e o sol alaranjado levantara-se no céu; a paisagem estava adornada de coloração esférica, sobre a qual pairava uma lua enorme, metade alaranjada, metade verde.
 Então, a imensa melodia que musicava a atmosfera parou e, em meio de profundo silêncio, ouvi um cântico, erguendo-se em voz tão pura que nenhuma voz humana lhe pudera ser comparada.
– Maravilhoso sistema – exclamei eu –, de tal mundo iluminado por semelhantes clarões! São estrelas duplas, tríplices, múltiplas, vistas de perto?
– São esplêndidos sóis – respondeu-me a deusa –, graciosamente associados nos laços de mútua atração. Vós outros as vedes, da Terra, embaladas duas a duas no seio dos céus, sempre belas, sempre luminosas, puras sempre.
Suspensas no Infinito, apóiam-se uma na outra sem jamais se tocarem, tal qual se a sua união, mais moral que material, fosse regida por um princípio invisível, e, seguindo harmoniosas curvas, gravitam em cadência em torno uma da outra, celestes casais desabrochados na primavera da Criação, nas campinas consteladas da imensidade.
 Enquanto os sóis simples qual o vosso brilham solitários, fixos, tranqüilos, nos desertos do Espaço, os sóis duplos e múltiplos parecem animar, com os seus movimentos, a sua coloração e vida, as silenciosas regiões do eterno vácuo.
Esses relógios siderais marcam para vós outros os séculos e as eras dos outros universos.
Mas – acrescentou –, continuemos a nossa viagem. Estamos apenas a alguns trilhões de léguas da Terra.
– Alguns trilhões?
– Sim. Se pudéssemos ouvir daqui os ruídos do vosso planeta, os seus vulcões, a sua artilharia, os seus trovões, os alaridos das grandes turbas nos dias de revolta, ou os cânticos piedosos das igrejas que se elevam para o Céu, a distância é tal que, admitindo pudessem esses ruídos transpô-la com a velocidade do som no ar, eles não empregariam menos de cento cinqüenta mil séculos para chegar até aqui. Ouviríamos hoje unicamente o que se passara na Terra há quinze milhões de anos.
“Entretanto, achamo-nos ainda, em relação à imensidade do Universo, mui próximo da tua Pátria. Continuas a reconhecer o teu Sol, lá em baixo, pequenina estrela. Não saímos do universo a que ele pertence com o seu sistema de planetas.
“Esse universo se compõe de muitos milhares de sóis, separados uns dos outros por trilhões de léguas.
“É tão considerável a sua extensão, que um relâmpago, com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, empregaria quinze milênios em transpô-la.
“E por toda parte sóis, para qualquer lado que volvamos o olhar; por toda a parte fontes de luz, de calor e de vida, fontes de inexaurível variedade, sóis de todos os esplendores, de todas as grandezas, de todas as idades, sustentados no eterno vácuo, no éter luminífero, pela atração mútua de todos e pelo movimento de cada um. Cada estrela, sol enorme, gira sobre si mesma, qual esfera de fogo, e voga rumo a um fim.
 Vosso Sol caminha e vos leva para a constelação de Hércules; este, cujo sistema acabamos de atravessar, caminha para o sul das Plêiades; Sirius se precipita para a Pomba; Pólux se dirige para a Via-láctea; todos esses milhões, todos esses bilhões de sóis correm através da imensidão com velocidades que atingem duzentos, trezentos e quatrocentos mil metros por segundo! É o movimento que sustenta o equilíbrio do Universo, que lhe constitui a organização, a energia e a vida.”

URÂNIA                 CAMILLE FLAMARION 

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