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segunda-feira, 18 de março de 2019

Bem Viver - CONSIDERAÇÕES SOBRE A TRISTEZA

Olá,

Os sentimentos humanos expressam-se de variada forma, com flutuações que determinam o
equilíbrio, a saúde mental e emocional ou os estados patológicos, necessitados de tratamento.
A tristeza não é o inverso da alegria, mas a sua ausência momentânea.
É um estado que conduz à reflexão e não ao desinteresse pela vida, à contemplação dos
valores vividos e não à melancolia, mas à análise das necessidades reais ainda não expressadas...

Ante a temerária depressão generalizou-se o conceito de que a tristeza, a melancolia e a
antiga acédia ou acídia são todas a mesma expressão do sentimento.
A tristeza, porém, é um fenômeno natural que ocorre com todas as pessoas, mesmo aquelas
que vivenciam os mais extraordinários momentos de alegria. Pode ser considerada como uma pausa
para a compreensão da existência, avançando no rumo do júbilo.
A melancolia é um estado de saudade de algo conhecido e perdido ou desconhecido e não
experimentado que, em se prolongando, pode transformar-se em depressão.
Enquanto a tristeza convida à viagem interior, propondo avaliação de comportamento e
consideração de valores aceitos, a melancolia normalmente é resultado de algum ser querido. No
início, é natural que ocorra, no entanto, em se prolongando por algumas semanas converte-se em
transtorno depressivo, que necessita de competente tratamento.
A sociedade contemporânea estabeleceu que a alegria deve ser um estado constante de todos
os indivíduos, significando êxito, realização nos relacionamentos, triunfo social e econômico,
conquista de posição relevante. Em consequência, há um estereótipo se debate em conflitos e dores
não exteriorizados.
Ninguém pode viver em alegria permanente, o que seria igualmente patológico, uma forma
de alienação da realidade, que sempre exige seriedade, esforço e trabalho, a fim de ser vivida em
forma edificante.
A frivolidade apresenta-se, quase sempre, em alegria leviana, irresponsável, porque desvia a
pessoa das responsabilidades que lhe dizem respeito, flutuando não indiferença entre os deveres e
os prazeres.
Não se pode nem se deve afivelar a máscara da alegria televisiva na face, demonstrando um
júbilo que não é real, porque o próprio organismo, a cada momento passa por alterações que
modificam o humor, convidam ao silêncio, à reflexão, ao refazimento de atitudes.
Quando se tem a preocupação de exteriorizar alegria contínua tal fenômeno caracteriza
insegurança, portanto, interesse de teatralizar as emoções.
É normal a tristeza e, algumas vezes, benéfica, pois que faculta um mecanismo de
retrocedimento mental para revisão e análise em torno de acontecimentos e vivências que
necessitam ser considerados.
Pode acontecer, igualmente, que, de um instante para o outro, perceba-se que aquilo que se
está fazendo não é exatamente o que se gostaria de realizar, abrindo espaço para uma certa tristeza,
que irá contribuir para refazer experiências e viver-se conforme os novos padrões emocionais.
A felicidade expressa-se no conjunto tristeza-alegria, na condição de ponte que une
distâncias aparentemente opostas.
Não são poucos aqueles que possuem os preciosos recursos econômicos, os triunfos sociais
e políticos, religiosos e artísticos, ou de outro tipo, experimentando solidão e vazio existencial, que
têm origem em reencarnações anteriores.
Não possuindo estrutura moral segura, esse paciente foge para os alcoólicos, as drogas
aditivas, o sexo apressado, mantendo o riso e a falsa alegria, parecendo realizado, para logo tombar
em estados dolorosos de melancolia e depressão.
Na cultura grega a melancolia era considerada, ora como punição dos deuses, noutras
circunstâncias, como condição necessária para receber-lhes a inspiração.
Aristóteles, por exemplo, narra que Sócrates e Platão periodicamente experimentavam-na,
sendo então por eles inspirados.
Consideramos, neste texto, a melancolia como a tristeza, o recolhimento, a necessidade de
silêncio interior, por cujo estado mais facilmente sintonizavam com o pensamento espiritual
procedente das Esferas superiores, dos Espíritos nobres que os orientavam.
Leon Tolstoi, o célebre escritor russo, vivenciou uma grande tristeza, que lhe exigiu
reflexões profundas em torno do existir, do porvir, do viver. Encontrando-se na melhor fase da sua
carreira de escritor, amado por uma família feliz e rico, repentinamente começou a constatar a
própria existência, tendo impulsos quase suicidas, que lutou para evitar e corajosamente superou.
Não chegou a entrar em depressão, mas a considerar que os valores até então aceitos e disputados
eram vazios, não lhe conseguindo mais preencher o íntimo com reais alegrias.
Depois de grande interiorização, leu o Evangelho de Jesus e nele encontrou a resposta, a
verdadeira alegria, mudando o modus vivendi, repartindo a fortuna, os bens, assumindo postura
simples e o comportamento de cidadão modesto, tornando-se irmão do seu próximo e dando lugar a
uma verdadeira revolução, em face daqueles que o seguiram nessa decisão.
Perseguido pela religião dominante na Rússia, como herege, declarou sua crença no Deus
justo, de amor, de misericórdia e de justiça, Pai de todas as criaturas que tinham o mesmo direito de
ser felizes na Terra.
Quando o Espírito, que tem sede de paz e de plenitude, descobre que está engessado nos
compromissos sociais, atrelando ao relógio que lhe comanda todos os momentos, obrigado a
comportar-se de maneira padronizada, livre, mas escravo das imposições dos multiplicadores de
opinião da mídia mercantilizada, mais interessada nos mecanismos do consumo do que na criatura
em si mesma, desperta desse letargo, dessa ilusão que se permite, experimenta tristeza pelo tempo
malconduzido.
Trata-se de uma tristeza saudável e enriquecedora, essa que se manifesta, não como
infelicidade, mas como terapia para o excesso de risos e de aparências...
A preocupação que toma conta da sociedade contemporânea em parecer, é tão grande, que se
estabeleceram padrões para a beleza, o comportamento, a alimentação, os relacionamentos, as
posturas do triunfo e a conquista dos minutos de holofotes...
A tristeza, portanto, tem vez em qualquer comportamento moral, social, religioso,
individual, trabalhando o indivíduo para a renovação interior e a conquista de valores mais
profundos e significativos do que os existentes e consumidores.
Nada obstante, não se deve cultivar a tristeza como necessária para o discernimento a cada
instante ou em toda parte.
Fenômeno psicológico transitório, deve ceder lugar à reflexão, ao despertamento e à
valorização dos tesouros morais, culturais e espirituais.
A tristeza sem lamentação, sem queixas, sem ressentimentos, é, pois, psicoterapêutica, de
vez em quando, para a conquista real do equilíbrio, com discernimento do que é lícito e deve ser
conquistado.
Muitas vezes Jesus chorou de tristeza contemplando a loucura humana, o seu desequilíbrio, o
desinteresse pelo verdadeiro e a ambição pelo mentiroso.
Sorriu, também, quando choraram aqueles que O foram ver no sepulcro, então ressuscitado,
como houvera antes muitas vezes chorado.
Mergulhou em tristezas, em muitas ocasiões, quando, por exemplo, buscou o deserto para
meditar, quando incompreendido pelos exploradores do povo, quando encontrou o Templo
transformado em mercado de interesses inferiores, quando no Horto das Oliveiras...
A tristeza era-Lhe familiar, embora Ele houvesse trazido as boas novas de alegrias para a
humanidade.
Não cultives a tristeza nem fujas dela, aceitando-a, quando se te apresentar e retirando o
melhor resultado da oportunidade de reflexão que te proporcione.
Com esse comportamento estarás experienciando atitudes renovadas.

Divaldo Franco/Joanna de Ângelis                             " Atitudes Renovadas"

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