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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Meditar - O orgulho e a humildade

Olá,

... A humildade é virtude muito esquecida entre vós. Bem pouco seguidos
são os exemplos que dela se vos têm dado. Entretanto, sem humildade,
podeis ser caridosos com o vosso próximo?
Oh! não, pois que este sentimento nivela os homens, dizendo-lhes que todos são irmãos,
que se devem auxiliar mutuamente, e os induz ao bem.
Sem a humildade, apenas vos adornais de virtudes que não possuís,
 como se trouxésseis um vestuário para ocultar as deformidades do vosso corpo.

 Lembrai-vos daquele que nos salvou; lembrai-vos da sua humildade, que tão grande o fez, colocando-o acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometia
o Reino dos Céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra
imaginam que os títulos e as riquezas são recompensas deferidas aos seus
méritos e se consideram de essência mais pura do que a do pobre.
 Julgam que os títulos e as riquezas lhes são devidos, pelo que, quando Deus lhos
retira, o acusam de injustiça.
 Oh! irrisão e cegueira! Pois, então, Deus vos distingue pelos corpos?
O envoltório do pobre não é o mesmo que o dorico?
Terá o Criador feito duas espécies de homens? Tudo o que Deus faz
é grande e sábio; não lhe atribuais nunca as ideias que os vossos cérebros
orgulhosos engendram.
Ó rico! Enquanto dormes sob dourados tetos, ao abrigo do frio, ignoras
que jazem sobre a palha milhares de irmãos teus, que valem tanto
quanto tu?
Não é teu igual o infeliz que passa fome?
 Ao ouvires isso, bem o sei, revolta-se o teu orgulho.
Concordarás em dar-lhe uma esmola, mas em lhe apertar fraternalmente a mão, nunca.
“Pois quê! dirás, eu, de sangue nobre, grande da Terra,
igual a este miserável coberto de andrajos!
 Vã utopia de pseudofilósofos!
 Se fôssemos iguais, por que o teria Deus colocado tão
baixo e a mim tão alto?”
 É exato que as vossas vestes não se assemelham;
mas despi-vos ambos: que diferença haverá entre vós? A nobreza do sangue,
dirás; a química, porém, ainda nenhuma diferença descobriu entre o sangue
de um grão-senhor e o de um plebeu; entre o do senhor e o do escravo.
Quem te garante que também tu já não tenhas sido miserável e desgraçado
como ele?
Que também não hajas pedido esmola?
Que não a pedirás um dia a esse mesmo a quem hoje desprezas?
São eternas as riquezas?
 Não desaparecem quando se extingue o corpo, envoltório perecível do teu Espírito?
Ah! lança sobre ti um pouco de humildade! Põe os olhos, afinal, na realidade
das coisas deste mundo, sobre o que dá lugar ao engrandecimento e ao
rebaixamento no outro; lembra-te de que a morte não te poupará, como a
nenhum homem; que os teus títulos não te preservarão do seu golpe; que
ela te poderá ferir amanhã, hoje, a qualquer hora.
 Se te enterras no teu orgulho,
oh! quanto então te lamento, pois bem digno de compaixão serás.
Orgulhosos! Que éreis antes de serdes nobres e poderosos?
Talvez estivésseis abaixo do último dos vossos criados. Curvai, portanto, as vossas
frontes altaneiras, que Deus pode fazer se abaixem, justo no momento em
que mais as elevardes. Na balança divina, são iguais todos os homens; só as
virtudes os distinguem aos olhos de Deus. São da mesma essência todos os
Espíritos e formados de igual massa todos os corpos. Em nada os modificam
os vossos títulos e os vossos nomes. Eles permanecerão no túmulo e de
modo nenhum contribuirão para que gozeis da ventura dos eleitos.
Estes, na caridade e na humildade é que têm seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! és mãe, teus filhos sofrem; sentem frio; têm fome,
e tu vais, curvada ao peso da tua cruz, humilhar-te, para lhes conseguires
um pedaço de pão! Oh! inclino-me diante de ti. Quão nobremente santa
és e quão grande aos meus olhos! Espera e ora; a felicidade ainda não é
deste mundo. Aos pobres oprimidos que nele confiam, concede Deus o
Reino dos Céus.
E tu, donzela, pobre criança lançada ao trabalho, às privações, por
que esses tristes pensamentos? Por que choras? Dirige a Deus, piedoso e
sereno, o teu olhar: Ele dá alimento aos passarinhos; tem-lhe confiança: Ele
não te abandonará.
 O ruído das festas, dos prazeres do mundo, faz bater-te
o coração; também desejaras adornar de flores os teus cabelos e misturar-te
com os venturosos da Terra. Dizes de ti para contigo que, como essas mulheres
que vês passar, despreocupadas e risonhas, também poderias ser rica.
Oh! cala-te, criança! Se soubesses quantas lágrimas e dores inomináveis se
ocultam sob esses vestidos recamados, quantos soluços são abafados pelos
sons dessa orquestra rumorosa, preferirias o teu humilde retiro e a tua pobreza.
Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo
guardião para o seu seio volte, cobrindo o semblante com as suas brancas
asas e deixando-te com os teus remorsos, sem guia, sem amparo, neste
mundo, onde ficarias perdida, a aguardar a punição no outro.
Todos vós que dos homens sofreis injustiças, sede indulgentes para
as faltas dos vossos irmãos, ponderando que também vós não vos achais
isentos de culpas; é isso caridade, mas é igualmente humildade. Se sofreis
pelas calúnias, abaixai a cabeça sob essa prova. Que vos importam as calúnias
do mundo? Se é puro o vosso proceder, não pode Deus vo-las compensar?
Suportar com coragem as humilhações dos homens é ser humilde
e reconhecer que somente Deus é grande e poderoso.
... Despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe
nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é,
fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à demolição
dos altares que todos ergueram ao orgulho.
Numa palavra: sede verdadeiros cristãos e tereis o Reino da Verdade.
Não continueis a duvidar da bondade de Deus, quando dela vos dá Ele tantas provas.
 Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der
uma manifestação mais retumbante da sua clemência, que o enviado celeste
já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações,
mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que Ele vos vem
trazer; que ao eleito somente se deparem em seu caminho as palmas que
aí tenhais deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade. Então, o
vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. No entanto, se permanecerdes
insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar e renovar a vossa sociedade
civilizada, rica de ciências, mas tão pobre de bons sentimentos, ah!
então não nos restará senão chorar e gemer pela vossa sorte. Mas não, assim
não será. Voltai para Deus, vosso Pai, e todos nós que houvermos contribuído
para o cumprimento da sua vontade entoaremos o cântico de ação
de graças, agradecendo-lhe a inesgotável bondade e glorificando-o por todos
os séculos dos séculos. Assim seja. –
Lacordaire. (Constantina, 1863.)  O E.S.E. cap. VII item 11

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