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sábado, 9 de maio de 2020

Vida - Consciência ética

Olá,

O homem é o único “animal ético” que existe. Não obstante, um exame da
sociedade, nas suas variadas épocas, devido à agressividade bélica, à indiferença pela vida, à barbárie de que dá mostras em inúmeras ocasiões, nos demonstre o contrário. Somente ele pode apresentar uma “consciência criativa”, pensar em termos de abstrações como a beleza, a bondade, a esperança, e cultivar ideais de enobrecimento. Essa consciência ética nele existe em potencial, aguardando que seja desenvolvida mediante e após o autodescobrimento, a aquisição de valores que lhe proporcionem o senso de liberdade para eleger as experiências que lhe cabem vivenciar.

Atavicamente receoso, experimenta conflitos que o atormentam, dificultando-
lhe discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal, o bom e o pernicioso. Ainda
dominado pelo egocentrismo da infância, de que não se libertou, pensa que o
mundo existe para que ele o desfrute, e as pessoas a fim de que o sirvam,
disputando e tomando, à força, o que supõe pertencer-lhe por direito ancestral.
Diversos caminhos, porém, deverá ele percorrer para que a autoconsciência
lhe descortine as aquisições ética indispensáveis: a afirmação de si mesmo, a
introspecção, o amadurecimento psicológico e a autovalorização entre outros...
O “negar-se a si mesmo” do Evangelho, que faculta a personalidades
patológicas o mergulho no abandono do corpo e da vida, em reação cruel,
destituído de objetivo libertador, aqui aparece como mecanismo de fuga da
realidade, medo de enfrentar a sociedade e de lutar para conseguir o seu “lugar ao
Sol”, como membro atuante e útil da humanidade, que necessita crescer graças à
sua ajuda. Este conceito cristão mantém as suas raízes na necessidade de
“negar-se” ao ego prepotente e dominador, a vassalagem do próximo, em favor
das suas paixões, a fim de seguir o Cristo, aqui significando a verdade que liberta.
O desprezo a si mesmo, literalmente considerado, constitui reação de ódio e
ressentimento pela vida e pela humanidade, mortificando o corpo ante a
impossibilidade de flagiciar a sociedade.
O homem que se afirma pela ação bem direcionada, conquista resistência para
perseverar na busca das metas que estabelece, amadurecendo a consciência
ética de responsabilidade e dever, o que o credencia a logros mais audaciosos.
Ele rompe as algemas da timidez, saindo do calabouço da preocupação, às vezes,
Mediante a autoconsciência, aplica de maneira salutar as experiências
passadas, sem saudosismo, sem ressentimentos, planejando as novas com um
bem delineado programa que resulta do processamento dos dados já vividos e
adicionados às expectativas em pauta a viver.
Por sua vez, o fenômeno da autoconsciência consiste no conhecimento lógico
do que fazer e como executá-lo, sem conceder-lhe demasiada importância, que se
transforme numa obsessão, pela minudência de detalhes e face ao excesso de
cuidados, correndo o risco do lamentável perfeccionismo. Ele resulta de uma
forma de dilatação do que se sabe, de uma consciência vigilante e lúcida do que
se realiza, expandindo a vida e, como efeito, graças ao dinamismo adquirido,
sentir-se liberado de tensões, fora de conflitos. Esta conquista de si mesmo enseja
maior soma de realizações, mais amplo campo de criatividade, mais
espontaneidade.
... A introspecção cria o clima de segurança emocional para a realização de cada
ação de uma vez e a vivência de cada minuto no seu tempo próprio. Ajuda a
manter a calma e a valorizar a sucessão das horas. O homem introspectivo, to-
davia, não se identifica pela carranca, pela severidade do olhar, pela distância da
realidade, tampouco pela falsa superioridade em relação às outras pessoas.
Tais posturas são formalistas, que denunciam preocupação com o exterior sem
contribuição íntimo-transformadora. Antes, surge com peculiar luminosidade na
face e no olhar, comedido ou atuando conforme o momento, porem sem perturbar-
se ou perturbar, transmitindo serenidade, confiança e vigor. A introspecção torna-
se um ato saudável, não um vício ou evasão da realidade.
À medida que o homem se penetra, mais amadurece psicologicamente, saindo
da proteção fictícia em que se esconde — dependência da mãe, da infância, do
medo, da ansiedade, do ódio e do ressentimento, da solidão — para assumir a
sua identidade, a sua humanidade.
As ações humanistas são o passo que desvela a consciência ética no indivíduo
que já não se contenta com a experiência do prazer pessoal, egoísta, dando-se
conta das necessidades que lhe vigem em volta, aguardando a sua contribuição.
Nesse sentido, a sua humanidade se dilata, por perceber que a felicidade é um
estado de bem-estar que se irradia, alcançando outros indivíduos ao invés de
recolher-se em detrimento do próximo. Qual uma luz, expande-se em todas as
direções, sem perder a plenitude do centro de onde se agiganta. Amplia-se-lhe,
desta forma, o senso da responsabilidade pela vida em todas as suas expressões,
tornando-o um ser humano ético, que é agente do progresso, das edificações
beneficentes e culturais.
A perseguição da inveja não o perturba, tampouco a bajulação da indignidade
o sensibiliza.
Paira nele uma compreensão dos reais valores, que o propele a avançar sem
timidez, sem pressa, sem temor. A sua se transforma em uma existência útil para
o meio social, tornando-se parte ativa da comunidade que passa a servir, sem
autoritarismo nem prejuízo emocional para si mesmo ou para o grupo.
A consciência ética é a conquista da iluminação, da lucidez intelecto-moral, do
dever solidário e humano. Ela proporciona uma criatividade construtiva ilimitada,
que conduz à santificação, na fé e na religião; ao heroísmo, na luta cotidiana e nas
batalhas profissionais; ao apogeu, na arte, na ciência, na filosofia, pelo empenho
que enseja em favor de uma plena identificação com o ideal esposado.

Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco                             " O Homem Integral"

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