Olá,
Continuemos nossa rota através dos mundos, e detenhamo-nos neste, que
nos vai repousar um pouco do triste espetáculo que acabamos de ver.
Não
é habitado senão por Espíritos da segunda ordem. Que diferença! O grau
de depuração que alcançaram exclui, entre eles, todo pensamento do mal, e
só essa palavra nos dá a idéia do estado moral dessa feliz região.
A
legislação, aí, é bem simples, porque os, homens não têm do que se
defenderem, uns contra os outros; ninguém quer o mal para o seu próximo,
ninguém se apropria do que não lhe pertence, ninguém procura viver em
detrimento do seu vizinho. Tudo respira a benevolência e o amor; os
homens não procuram se prejudicar; não há ódio; o egoísmo é desconhecido
e a hipocrisia não teria finalidade.
Aí, todavia, não reina a igualdade
absoluta, porque a igualdade absoluta supõe uma identidade perfeita no
desenvolvimento intelectual e moral; ora, veremos, pela escala
espiritual, que a segunda ordem compreende vários graus de
desenvolvimento; haverá, pois, nesse mundo, desigualdades, porque uns
serão mais avançados do que outros; mas, como entre eles não há senão o
pensamento do bem, os mais elevados não conceberão nada de orgulho, e os
outros nada de ciúme. O inferior compreende a ascendência do superior e
se submete, porque essa ascendência é puramente moral e ninguém dela se
serve para oprimir.
As consequências que tiramos,
desses quadros, embora apresentadas de um modo hipotético, não deixam de
ser perfeitamente racionais, e, cada um pode deduzir o estado social de
um mundo qualquer, segundo a proporção dos elementos morais dos quais
se o supõe composto.
Vimos que, abstração feita da revelação dos
Espíritos, todas as probabilidades são para a pluralidade dos mundos;
ora, não é menos racional pensar que todos não estão num mesmo grau de
perfeição, e que, por isso mesmo, nossas suposições podem muito bem ser
realidades.
Não os conhecemos, senão o nosso, de um modo positivo.
Que
categoria ele ocupa nessa hierarquia?
Ah! basta considerar o que aqui se
passa para ver que está longe de merecer a primeira categoria, e
estamos convencidos de que, lendo estas linhas, já se lhe terá marcado
seu lugar. Quando os Espíritos nos dizem que estão, senão na última,
pelo menos nas últimas, o simples bom senso nos diz, infelizmente, que
não se enganam; temos muito a fazer para elevá-lo à categoria daquele
que escrevemos em último lugar, e temos muita necessidade que o Cristo
venha nos mostrar o caminho.
Quanto à aplicação, que
podemos fazer, do nosso raciocínio, aos diferentes globos do nosso
turbilhão planetário, não temos senão os ensinamentos dos Espíritos;
ora, para quem não admite senão provas palpáveis, é positivo que sua
asserção, a esse respeito, não tenha a certeza da experimentação direta.
No entanto, não aceitamos, todos os dias com confiança as descrições,
que os viajantes nos fazem, de países que jamais vimos? Se nós não
devêssemos crer senão por nossos olhos, não creríamos em grande coisa.
O
que dá aqui, um certo peso ao dizer dos Espíritos, é a correlação que
existe entre eles, pelo menos nos pontos principais. Para nós, que fomos
cem vezes testemunhas dessas comunicações, que pudemos apreciá-las em
seus menores detalhes, que nelas escrutamos o forte e o fraco,
observamos as semelhanças e as contradições, encontramos todos os
caracteres da probabilidade; todavia, não lhes damos senão sob benefício
de inventário, a título de notícias, aos quais cada um está livre para
ligar a importância que julga adequada.
Segundo os Espíritos, o planeta
Marte seria ainda menos avançado do que a Terra; os Espíritos que nele
estão encarnados pareceriam pertencer, quase exclusivamente, à nona
classe, a dos Espíritos impuros, de sorte que o primeiro quadro, que
demos acima, seria a imagem desse mundo. Vários outros pequenos globos
estão, com algumas nuanças, na mesma categoria.
A Terra viria em
seguida; a maioria de seus habitantes pertence, incontestavelmente, a
todas as classes da terceira ordem, e a parte menor às últimas classes
da segunda ordem.
Os Espíritos superiores, os da
segunda e da terceira classe, nela cumprem, algumas vezes, uma missão de
civilização e progresso, e são exceções.
Mercúrio e Saturno vêm depois
da Terra. A superioridade numérica de bons Espíritos lhes dá a
preponderância sobre os Espíritos inferiores, do que resulta uma ordem
social mais perfeita, relações menos egoístas, e, por consequência, uma
condição de existência mais feliz.
A Lua e Vênus estão quase no mesmo
grau e, sob todos os aspectos, mais avançados do que Mercúrio e Saturno.
Juno (Juno é o nome de uma divindade itálica. Deve ter ocorrido um
lapso do autor, uma vez que não ha, no nosso sistema solar, nenhum
planeta com este nome. N. do T.) e Urano seriam ainda superiores a esses
últimos.
Pode-se supor que os elementos morais, desses dois planetas,
são formados das primeiras classes da terceira ordem e, na grande
maioria, de Espíritos da segunda ordem. Os homens, neles, são
infinitamente mais felizes do que sobre a Terra, pela razão de que não
têm nem as mesmas lutas a sustentar, nem as mesmas tribulações a
suportar, e não estão expostos às mesmas vicissitudes físicas e morais.
Revista Espírita, março de 1858
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