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sábado, 28 de setembro de 2019

Vida - O Mar

Olá,

O oceano é majestoso de se ver nas suas horas de irritação, quando a
onda bate com força estourando sobre os recifes, ruge nas suas
enseadas profundas e secretas, ou rola como um raio na sombra
das cavernas cavadas na rocha. O lamento do mar tem algo
de penetrante, de solene, que torna a solidão mais triste, mais
impressionante. Os gritos dos maçaricos-reais, das gaivotas,
dos albatrozes, que voam, rodopiando no meio da tempestade,
aumentam a desolação da cena. Toda a costa fica branca de
espuma.

Por toda a parte, montes de rochas enegrecidas
prolongam o continente assim como tantos fragmentos
arrancados da ossatura do globo pelo furor das águas. Longas
linhas de detritos se alongam, testemunhando combates seculares
que a onda trava contra o áspero granito.
É um caos formidável, em que os elementos desencadeados turbilhonam
e se arrojam sobre a terra, que geme sob esses esforços redobrados.
A noite desceu, e as cintilações das estrelas iluminam-se no azul profundo
do céu.
O silêncio se faz, perturbado apenas pela grande melopeia do oceano,
que se eleva, lenta, grave, contínua,
semelhante a uma salmodia ou a uma encantação.
O que ela diz? Como todas as harmonias da Natureza, ela fala da Causa
suprema, da obra imensa e divina. Ela nos lembra como o homem
é pequeno pela sua forma material, diante da majestade
das águas e do céu; como é grande pela sua alma, que pode
abarcar todas as coisas, saborear-lhe as belezas, resgatar-lhe
os ensinamentos.
Que homem não experimentou esse sentimento misterioso
que nos retém, contemplativo e sonhador, diante dos
espetáculos do mar?
Em alguns, segundo o grau de evolução,
uma espécie de estupor admirativo, misturado ao temor; em
outros, é uma comunhão íntima e muda que os invade inteiramente.
Nossa alma vai em direção às coisas, sem conseguir penetrá-las completamente,
porém dela se aproxima o bastante para sentir o parentesco que nos une.
Daí, entre a Natureza e nós, laços, relações múltiplas e ocultas.
Essa fusão com a alma universal se traduz por uma embriaguez
de vida que nos penetra através de todos os poros, embriaguez
que a palavra não poderia exprimir.
O mar, como a floresta, como a montanha, age sobre nossa vida psíquica,
sobre nossos sentimentos e nossos pensamentos, e através dessa comunhão
íntima, a dualidade da matéria e do espírito cessa um instante,
para se fundir na grande unidade que tudo gerou.
Nós nos sentimos associados às forças imensas do Universo, destinados
como elas, porém, de uma outra maneira, a desempenhar um
papel neste vasto teatro.

Leon Denis               " O Grande Enigma"

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