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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Vida - A Floresta II

Olá,

A floresta não é somente um maravilhoso espetáculo;
é ainda um ensinamento perpétuo.
Incessantemente, ela nos fala das regras fortes, dos princípios augustos que regem toda
vida e presidem à renovação dos seres e das estações.
 Aos tumultuosos, aos agitados, ela oferece seus refúgios profundos,
propícios à reflexão. Aos impacientes, ávidos de gozo, ela diz
que nada é durável senão aquilo que custa trabalho e tempo
para germinar, para sair da sombra e subir na direção do céu.
Aos violentos, aos impulsivos, ela opõe a visão de sua lenta
evolução.

Derrama a calma nas almas enfebrecidas.
Simpática às alegrias, compassiva com as dores humanas, ela pensa os
corações machucados, consola, repousa, comunica a todos as
forças obscuras, as energias escondidas no seu seio.
A bolota, sob seu envoltório modesto, contém não somente todo
um carvalho no seu desabrochar majestoso, mas toda uma
floresta. O grão, mais minúsculo ainda, encerra, no seu galante
berço, toda a flor com sua graça, suas cores, seus perfumes.
Assim também, a alma humana possui em gérmen todo o desenvolvimento
de suas faculdades, de suas potências vindouras.
Se não tivéssemos sob os olhos o espetáculo das metamorfoses
vegetais, nós nos recusaríamos a nele crer.
As fases de evolução das almas no seu curso infinito nos escapam, e
não podemos compreender atualmente todo o esplendor de seu
porvir. Temos, todavia, um exemplo na pessoa desses gênios
que passaram através da história como um deslumbramento,
deixando atrás de si obras imperecíveis. Tais são as alturas a
que se podem elevar as almas mais atrasadas na escala das vidas
inumeráveis, com o auxílio desses dois fatores essenciais:
o tempo e o trabalho!
A floresta é o adorno da terra e a verdadeira conservadora
do globo. Sem ela, o solo, arrastado pelas chuvas,
retornaria rápido aos abismos do mar imenso. Ela retém as
generosas gotas da tempestade nos seus tapetes de musgos, no
emaranhado de suas raízes; economiza-as para as fontes e as
devolve, pouco a pouco, transformadas, tornadas fertilizantes
e não devastadoras. Por toda a parte onde as árvores desaparecem,
a terra se empobrece, perde sua beleza.
Gradualmente, vêm a monotonia, a aridez, depois, a morte.
Regeneradora por excelência, a respiração de suas milhares de folhas
 destila o ar e purifica a atmosfera.
Do ponto de vista psíquico, nós o vimos, o papel da
floresta não é menos considerável. Ela foi sempre o asilo do
pensamento recolhido e sonhador. Quantas obras delicadas e
fortes foram meditadas na sombra fresca e mutável, na paz de
suas poderosas e fraternas ramagens!
Quem quer que possua uma alma de artista, de escritor, de poeta,
poderá haurir nessa fonte viva e bastante plena, a inspiração fecunda.
Com seu ritmo majestoso, a floresta embalou a infância
das religiões. A arquitetura sagrada, nas suas mais altivas
audácias, apenas fez copiá-la. As naves góticas de nossas catedrais
não são outra coisa senão a imitação, através da pedra,
das mil colunatas e das abóbadas imponentes dos bosques?
A voz dos órgãos, não é a agitação do vento, que, conforme a
hora, suspira nos canaviais ou faz gemer os grandes pinheiros?
A floresta serviu de modelo às manifestações mais elevadas
da ideia religiosa no seu desabrochar estético. Nas primeiras
idades, ela cobria quase toda a superfície do globo. Nada de
impressionante para nossos pais, como a antiga e profunda
floresta dos gauleses, na sua grandeza misteriosa, com seus
santuários naturais, onde se efetuavam os ritos sagrados, seus
refúgios, às vezes, cheios de horror, quando os roncos da
tempestade faziam ressoar os ecos dos bosques e que, do seio
das moitas espessas, subia o grito das feras; cheias de encanto
e de poesia, quando, retornada a calma, o céu azul e a clara
luz reapareciam através dos ramos e que o canto dos pássaros
celebrava a festa eterna da vida.

Leon Denis     " O Grande Enigma"

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