Olá,
O Espiritismo nasceu da Caridade, e nela e por ela se desenvolve.
Mas, para bem compreendermos esse fato, é necessário, primeiro, entendermos o
verdadeiro sentido da palavra Caridade.
Kardec perguntou aos Espíritos qual era
esse sentido, segundo Jesus a entendia. E os Espíritos lhe responderam o
seguinte:
“Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições
alheias, perdão das ofensas”.
Comentando essa resposta, que encontramos na pergunta 886 de
“O Livro dos Espíritos”, Kardec anotou:
“A caridade, segundo Jesus, não se
restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes,
quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores.”
Jesus, que por amor encarnou-se entre os homens, praticou
aquilo que hoje chamamos de caridade-espírita: elevou os pecadores em vez de
condená-los, afastou os espíritos obsessores das criaturas doentes ou
perturbadas, curou pela palavra esclarecedora e amorosa, afastou os homens do
orgulho e do sectarismo vaidoso.
Por caridade, ofereceu-nos as lições de amor
do Evangelho. Mas, conhecendo a nossa inferioridade, formulou ainda, por
caridade, a promessa do Consolador, que viria quando estivéssemos em condições
de compreendê-lo.
A vinda do Consolador é, portanto, um ato de caridade. Mas
não é apenas a manifestação de uma caridade pessoal do Senhor. Porque, para que
o Consolador se manifestasse, foi necessário que o Pai Supremo atendesse às
nossas necessidades evolutivas e que os Espíritos Benevolentes se entregassem à
missão de nos despertarem para os problemas espirituais.
A caridade que mana do
alto, do supremo poder de Deus, manifestou-se então na Terra, em cumprimento à
promessa de Jesus, através do trabalho de amor dos seus Enviados.
Não foi uma esmola dada ao mendigo, mas uma atitude de
compreensão e solidariedade. Por isso, os espíritos caridosos colocaram a
luminosa palavra, até hoje malsinada pela ignorância humana, como bandeira da
luta pela espiritualização da Terra.
E Kardec nos ofereceu o lema doutrinário,
tão bem definido em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, através de mensagens
esclarecedoras e dos comentários do Codificador:
“Fora da caridade não há
salvação.”
Compreendida conforme a compreendia Jesus, e de acordo com a
bela definição do apóstolo Paulo, a Caridade foi o escudo do Espiritismo, na
batalha sem tréguas da sua propagação. Em vão se ergueram contra a nova
doutrina todas as forças dominantes do mundo. À maneira do Cristianismo, que
venceu pela força do amor, o Espiritismo foi dobrando todas as resistências,
através da prática da caridade, em todas as suas formas de manifestação.
Desde
a caridade de uma palavra de compreensão e estímulo, até a concretização das
campanhas humanitárias e das instituições de assistência ao próximo.
Tão grande, porém, é ainda a inferioridade humana, que até
mesmo no meio espírita encontramos dificuldades para a verdadeira colocação do
problema espiritual da caridade. Muitos o interpretam em termos materiais,
apegados ao conceito de caridade como esmola, e outros, em contraposição,
condenam o aspecto material da caridade, apegando-se apenas ao conceito de
caridade como ajuda espiritual, através de conselhos ou preces. A caridade,
entretanto, é como a luz, que, sendo única, manifesta-se por variadas formas.
Na mensagem de Vicente de Paulo, que encontramos no item 889
de “O Livro dos Espíritos”, lemos o seguinte:
“Amai-vos uns aos outros, eis
toda a lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de
atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei do amor para a
matéria inorgânica.” Eis uma clara explicação do problema, que devia ser lida e
meditada por todos os que disputam sobre a questão da prática verdadeira da
caridade. Ela nos ensina a compreender os graus da caridade, a partir da sua
manifestação no plano da matéria inorgânica, até a suprema expressão do amor
consciente e poderoso de Deus.
Na matéria, o amor produz a gravidade, e é por isso que o
amor de Deus governa os mundos no espaço. No espírito, o amor produz a caridade,
que se manifesta em benevolência, indulgência, perdão e amparo. Graças às
manifestações da caridade, Deus governa os homens na vida social, e os eleva da
terra aos céus. E assim como a caridade tem o seu equivalente no plano
material, é natural que tenha, no plano do espírito manifestado na matéria, as
suas formas materiais de manifestação, da qual a esmola é a mais humilde.
Distribuir recursos aos pobres, dar esmolas, ou construir abrigos,
asilos, hospitais, orfanatos, são formas objetivas da caridade, que enobrecem
quem as pratica, mas nunca devem ser motivos de orgulho e vaidade. Porque as
formas objetivas são meios de conduzir nosso espírito às manifestações mais
puras da caridade, que constituem suas formas subjetivas. Se em vez de
utilizarmos aquelas como meios, delas nos servirmos como fins, interrompemos o
processo natural do desenvolvimento da caridade em nós mesmos, e acabamos por
destruir os germens divinos em nossos corações. É por esse motivo que
fundadores e diretores de instituições caridosas acabam, muitas vezes, necessitando
de caridade.
Se quisermos, pois, que o Espiritismo se desenvolva através
da caridade, único meio pelo qual ele realmente pode desenvolver-se, não
esqueçamos que caridade é, antes de mais nada, benevolência, indulgência e
perdão. Mas não esqueçamos também que essas três virtudes, para serem bem
praticadas, devem ser compreendidas em si mesmas, pois há quem as confunda com
as formas contraditórias da falsa tolerância e da displicência moral. Em tudo,
como aconselhava Kardec, precisamos usar o crivo da razão.
José Herculano Pires O Homem Novo
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