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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Bem Viver - A Montanha

Olá,

Em alguns pontos de nossas costas, o mar e a montanha
se juntam, enfrentam-se. Eles se opõem um ao outro; este,
a variedade de suas formas na imobilidade silenciosa; aquele,
o ruído, o movimento incessante na uniformidade. De um
lado, a agitação sem-trégua; do outro, a calma majestosa.
A Natureza se diverte com estes contrastes. Os montes,
ora ásperos e nus, ora enfeitados de verdura, elevam-se acima
dos vales profundos e dos vastos horizontes do mar; sítios graciosos
ou austeros enquadram a toalha azul dos lagos. Acima
de todas as coisas, o Espaço se desenrola, e, no meio dos céus,
os astros prosseguem seu curso eterno.

A obra é variada nas suas menores minúcias; porém,
dos elementos diversos que a compõem destaca-se uma poderosa
harmonia, onde a arte do divino autor se revela. Acontece
o mesmo no domínio moral. Existem almas inumeráveis,
com aptidões infinitamente variadas: almas ternas ou brilhantes,
nobres ou vulgares, tristes ou alegres, almas de fé, almas
de dúvida, almas de gelo, almas de fogo!
Todas parecemse misturar, se confundir na imensa arena da vida. Dessas
aparentes discordâncias, dessas atrações, desses contrastes
provêm as lutas, os conflitos, os ódios, os amores loucos, as
felicidades inebriantes, as dores agudas. Mas, desse bracejar
contínuo, uma mistura se produz; perpétuas trocas se efetuam;
uma ordem crescente se destaca.
Os fragmentos das rochas, as pedras arrastadas pela torrente,
 transformam-se, com o tempo, em seixos redondos e polidos.
Acontece o mesmo com as almas:
chocadas, roladas pelo rio das existências, de degraus em
degraus, de vidas em vidas, elas se encaminham na senda das
perfeições.
Como é bom, na fresca aurora, inteiramente impregnada
de aromas penetrantes da noite, escalar as vertentes, com o
grande cajado pontudo na mão, a mochila de provisões sobre
o ombro! Em torno de vós, tudo está calmo; a terra exala essa
paz serena que retempera os corações e os penetra com uma
alegria íntima. A vereda é tão graciosa em seus contornos, a
floresta tão cheia de sombra e de misteriosa suavidade!
À medida que subis, a perspectiva se alarga, soberbas escarpas se
abrem ao longe nas planícies. As cidadezinhas mostram suas
manchas brancas na verdura, entre as colheitas, as charnecas
e os bosques. A água das lagoas e dos rios reflete a luz como
o aço polido.
Logo, a vegetação se faz mais rara; a senda se torna
mais abrupta; se atravanca de troncos de árvores e de blocos
desmoronados. Por toda a parte, aparecem as florzinhas das
altitudes. Aromas balsâmicos flutuam no
ar. Por toda a parte, águas que jorram das fontes límpidas. Seu
murmúrio enche a montanha com uma doce sinfonia.
Amo tudo da montanha: seus dias ensolarados, cheios
de eflúvios e de raios, e suas noites serenas sob os milhões de
estrelas que cintilam com maior força e parecem mais próximas
de vós. Amo até suas tempestades e os clarões do raio
sobre os cimos.

Leon Denis                                 " O Grande Enigma "

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