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domingo, 20 de outubro de 2019

Bem Viver - A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Olá,

 Sob que forma se desenvolve a vida imortal, e que é na realidade a vida da
alma? Para responder a tais perguntas, cumpre Ir à origem e examinar em seu
conjunto o problema das existências.
Sabemos que, em nosso globo, a vida aparece primeiramente sob os mais
simples, os mais elementares aspectos, para elevar-se, por uma progressão
constante, de formas em formas, de espécies em espécies, até ao tipo
humano, coroamento da criação terrestre. Pouco a pouco, desenvolvem-se e
depuram-se os organismos, aumenta a sensibilidade. Lentamente, a vida
liberta-se dos liames da matéria; o instinto cego dá lugar à inteligência e à
razão. Teria cada alma percorrido esse caminho medonho, essa escala de

evolução progressiva, cujos primeiros degraus afundam-se num abismo
tenebroso? Antes de adquirir a consciência e a liberdade, antes de se possuir
na plenitude de sua vontade, teria ela animado os organismos rudimentares,
revestido as formas Inferiores da vida? Em uma palavra: teria passado pela
animalidade? O estudo do caráter humano, ainda com o cunho da bestialidade,
leva-nos a supor isso.
O sentimento da justiça absoluta diz-nos também que o animal, tanto
quanto o homem, não deve viver e sofrer para o nada. Uma cadeia ascendente
e continua liga todas as criações, o mineral ao vegetal, o vegetal ao animal, e
este ao ente humano. Liga-os duplamente, ao material como ao espiritual. Não
sendo a vida mais que uma manifestação do espírito, traduzida pelo
movimento, essas duas formas de evolução são paralelas e solidárias.
A alma elabora-se no seio dos organismos rudimentares. No animal está
apenas em estado embrionário; no homem, adquire o conhecimento, e não
mais pode retrogradar. Porém, em todos os graus ela prepara e conforma o
seu invólucro. As formas sucessivas que reveste são a expressão do seu valor
próprio. A situação que ocupa na escala dos seres está em relação direta com
o seu estado de adiantamento. Não se deve acusar Deus por ter criado formas
horrendas e desproporcionadas. Os seres não podem ter outras aparências
que não sejam as resultantes das suas tendências e dos hábitos contraídos.
Acontece que almas, atingindo o estado humano, escolhem corpos débeis e
sofredores para adquirirem as qualidades que devem favorecer a sua elevação;
porém, na Natureza Inferior nenhuma escolha poderiam praticar e o ser recai
forçosamente sob o império das atrações que em si desenvolveu.
Essa explicação pode ser verificada por qualquer observador atento. Nos
animais domésticos as diferenças de caráter são apreciáveis, e até os de
certas espécies parecem mais adiantados que outros. Alguns possuem qualidades
que se aproximam sensivelmente das da Humanidade, sendo
suscetíveis de afeição e devotamento. Como a matéria é incapaz de amar e
sentir, forçoso é que se admita neles a existência de uma alma em estado embrionário.
Nada há aliás maior, mais justo, mais conforme a lei do progresso, do
que essa ascensão das almas operando-se por escalas Inumeráveis, em cujo
percurso elas próprias se formam: pouco a pouco se libertam dos Instintos
grosseiros e despedaçam a sua couraça de egoísmo para penetrarem nos
domínios da razão, do amor, liberdade. É soberanamente justo que a mesma
aprendizagem chegue a todos, e que nenhum ser alcance o estado superior
sem ter adquirido aptidões novas.
No dia em que a alma, libertando-se das formas animais e chegando ao
estado humano, conquistar a sua autonomia, a sua responsabilidade moral, e
compreender o dever, nem por isso atinge o seu fim ou termina a sua
evolução. Longe de acabar, agora é que começa a sua obra real; novas tarefas
chamam-na. As lutas do passado nada são ao lado das que o futuro lhe
reserva. Os seus renascimentos em corpos carnais suceder-se-ão. De cada
vez, ela continuará, com órgãos rejuvenescidos, a obra do aperfeiçoamento
interrompida pela morte, a fim de prosseguir e mais avançar. Eterna viajora, a
alma deve subir, assim, de esfera em esfera, para o Bem, para a Razão infinita,
alcançar novos níveis, aprimorar-se sem cessar em ciência, em critério, em
virtude.
Cada uma das existências terrestres mais não é que um episódio da vida
imortal. Alma nenhuma poderia em tão pouco tempo despir-se de todos os
vícios, de todos os erros, de todos os apetites vulgares, que são outros tantos
vestígios das suas vidas desaparecidas, outras tantas provas da sua origem.
Calculando o tempo que foi preciso à Humanidade, desde a sua aparição
no globo, para chegar ao estado da civilização, compreenderemos que, para
realizar os seus destinos, para subir de claridades em claridades até ao
absoluto, até ao divino, a alma necessita de períodos sem limites, de vidas
sempre novas, sempre renascentes.
Só a pluralidade das existências pode explicar a diversidade dos
caracteres, a variedade das aptidões, a desproporção das qualidades morais,
enfim, todas as desigualdades que ferem a nossa vista.
Fora dessa lei, indagar-se-ia inutilmente por que certos homens possuem
talento, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só
tiveram em partilha tolice, paixões vis e Instintos grosseiros.
Que pensar de um Deus que, estabelecendo uma só vida corporal, nos
houvesse dotado tão desigualmente, e, do selvagem ao civilizado, tivesse
reservado aos homens bens tão desproporcionados e tão diferente nível
moral? Se não fosse a lei das reencarnações, a iniquidade governaria o
mundo.
A influência dos meios, a hereditariedade, as diferenças de educação não
bastam para explicar essas anomalias. Vemos os membros de uma mesma
família, semelhantes pela carne e pelo sangue, educados nos mesmos
princípios, diferençarem-se em bastantes pontos. Homens excelentes têm tido
monstros por filhos. Marco Aurélio, por exemplo, foi o genitor de Cômodo;
personagens célebres e estimadas têm descendido de pais obscuros, destituídos
de valor moral.
Se para nós tudo começasse com a vida atual, como explicar tanta
diversidade nas inteligências, tantos graus na virtude e no vício, tantas
variedades nas situações humanas? Um mistério impenetrável pairaria sobre
esses gênios precoces, sobre esses Espíritos prodigiosos que, desde a
infância, penetram com ardor as veredas da arte e das ciências, ao passo que
tantos jovens empalidecem no estudo e ficam medíocres, apesar dos seus
esforços.
Todas essas obscuridades se dissipam perante a doutrina das existências
múltiplas. Os seres que se distinguem pelo seu poder intelectual ou por suas
virtudes têm vivido mais, trabalhado mais, adquirido experiência e aptidões
maiores.
O progresso e a elevação das almas dependem unicamente de seus
trabalhos, da energia por elas desenvolvida no combate da vida. Umas lutam
com coragem e rapidamente franqueiam os graus que as separam da vida
superior, enquanto outras imobilizam-se durante séculos em existências
ociosas e estéreis. Porém, essas desigualdades, resultantes dos feitos do
passado, podem ser resgatadas e niveladas nas vidas futuras. Em resumo, o
ser se forma a si próprio pelo desenvolvimento gradual das forças que estão
consigo. Inconsciente ao princípio, sua vida vai ganhando inteligência e torna-se
consciente logo que chega à condição humana e entra na posse de si mesmo.
Aí a sua liberdade ainda é limitada pela ação das leis naturais que
intervêm para assegurar a sua conservação. O livre-arbítrio e o fatalismo assim
se equilibram e moderam-se um pelo outro. A liberdade e, por conseguinte, a
responsabilidade são sempre proporcionais ao adiantamento do ser.
Eis a única solução racional do problema. Através da sucessão dos
tempos, na superfície de milhares de mundos, as nossas existências
desenrolam-se, passam, renovam-se, e, em cada uma delas, desaparece um
pouco do mal que está em nós; as nossas almas fortificam-se, depuram-se,
penetram mais intimamente nos caminhos sagrados, até que, livres das
encarnações dolorosas, tenham adquirido, por seus méritos, acesso aos
círculos superiores, onde eternamente irradiarão em beleza, sabedoria, poder e
amor!

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