A velhice é ainda, e apesar de tudo, uma das belezas da
vida, e, certamente, uma de suas harmonias mais elevadas.
Frequentemente, dizem: que belo ancião!
Se a velhice não tivesse sua estética particular, por que essa exclamação?
Entretanto, é preciso não esquecer que em nossa época,
como já dizia Chateaubriand, “há muitos velhos e poucos
anciãos” — o que não é a mesma coisa. O ancião, com efeito, é
bom; é indulgente, ama e encoraja a juventude, seu coração não
envelheceu, enquanto que os velhos são ciumentos, malévolos e
severos; e se novas gerações não têm mais pelos antepassados
o culto de outrora, não será precisamente porque os velhos perderam
a elevada serenidade, a amável benevolência que fazia,
antigamente, a poesia dos lares antigos? A velhice é santa, é
pura como a primeira infância; é por isso que ela se aproxima
de Deus e que vê mais claro e mais longe nas profundezas do
Infinito.
Na realidade, ela é um início de desmaterialização.
A insônia, que é a característica comum dessa idade, é a prova
material disso. A velhice se assemelha a uma vigília prolongada,
a vigília da eternidade, e o ancião é como a sentinela
avançada na extrema fronteira da vida; ele já tem um pé na
terra prometida e vê a outra margem e a segunda vertente do
destino. Daí essas “ausências estranhas”, essas distrações prolongadas,
que tomamos por um enfraquecimento mental e que,
na realidade, são apenas explorações momentâneas no Além,
isto é, fenômenos de expatriação passageira. Eis o que nem
sempre se compreende.
A velhice, têm-se dito com frequência:
é a tarde da vida, é a noite. A tarde da vida, é verdade; mas há
tardes tão belas e poentes que têm reflexos de apoteose! É a
noite: é verdade ainda, mas a noite é tão bela com seu ornamento
de constelações! Como a noite, a velhice tem suas Vias
Lácteas, suas estradas brancas e luminosas, reflexo esplêndido
de uma longa vida repleta de virtude, de bon
Leon Denis " O Grande Enigma "
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