Digite aqui o assunto do seu interesse:

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Meditar - Velhice III

Olá

A velhice se assemelha a uma vigília prolongada,
a vigília da eternidade, e o ancião é como a sentinela
avançada na extrema fronteira da vida; ele já tem um pé na
terra prometida e vê a outra margem e a segunda vertente do
destino. Daí essas “ausências estranhas”, essas distrações pro
longadas, que tomamos por um enfraquecimento mental e que,
na realidade, são apenas explorações momentâneas no Além,
isto é, fenômenos de expatriação passageira. Eis o que nem
sempre se compreende.

A velhice, têm-se dito com frequência:
é a tarde da vida, é a noite. A tarde da vida, é verdade; mas há
tardes tão belas e poentes que têm reflexos de apoteose! É a
noite: é verdade ainda, mas a noite é tão bela com seu ornamento
de constelações! Como a noite, a velhice tem suas Vias
Lácteas, suas estradas brancas e luminosas, reflexo esplêndido
de uma longa vida repleta de virtude, de bondade, de honra!
A velhice é visitada pelos espíritos do invisível; ela tem
iluminações instintivas; um dom maravilhoso de adivinhação
e de profecia; ela é a mediunidade permanente e seus oráculos
são o eco da voz de Deus. Eis por que as bênçãos do ancião
são duas vezes santas; devem-se guardar no coração as últimas
palavras do ancião que morre, como o eco longínquo de uma
voz amada por Deus e respeitada pelos homens.
As transformações, ou melhor, as transfigurações operadas
nas faculdades da alma pela velhice são admiráveis. Esse
trabalho interior resume-se numa única palavra: simplicidade.
A velhice é eminentemente simplificadora de todas as coisas.
Primeiramente, ela simplifica o lado material da vida; suprime
todas as necessidades factícias, as mil necessidades artificiais
que a juventude e a idade madura criaram para nós, e que fize
ram de nossa existência complicada, uma verdadeira escravidão,
uma servidão, uma tirania. Nós o dissemos mais acima: é
um início de espiritualização.
O mesmo trabalho de simplificação se efetua na inteligência.
As coisas adquiridas tornam-se mais transparentes; no
fundo de cada palavra encontra-se a ideia; no fundo de cada
ideia entrevemos Deus.
O ancião tem uma faculdade preciosa: a de esquecer.
Tudo o que foi fútil, inútil na sua vida, apaga-se; ele apenas
guarda na sua memória, como no fundo de um cadinho, o que
foi substancial.
A fronte do ancião nada mais tem da atitude altiva e
provocadora da juventude e da idade viril; ele se enverga sob o
peso do pensamento como uma espiga madura.
A velhice é o prefácio da morte; é o que a torna santa
como a vigília solene que faziam os iniciados antigos antes de
levantar o véu que cobria os mistérios.
A morte é, pois, uma iniciação.
A morte é simplesmente um segundo nascimento; deixamos
esse mundo da mesma maneira que aí entramos, conforme
a ordem da mesma lei.
Algum tempo antes da morte, um trabalho silencioso
se efetua. A desmaterialização já começou. Através de alguns
sinais, podemos constatá-la, se aqueles que cercam o moribundo
não estiverem distraídos pelas coisas externas. A doença
desempenha aqui um papel considerável. Ela termina em alguns
meses, em algumas semanas, talvez em alguns dias, o que
o lento trabalho da idade havia preparado: é a obra de “dissolução”
da qual fala o Apóstolo Paulo. Essa palavra “dissolução”
é muito significativa; ela indica claramente que o organismo
se desagrega e que o perispírito se “desliga” do resto da carne
com a qual ele estava envolvido.
Nunca se morre sozinho, da mesma forma que nunca
se nasce sozinho. Os invisíveis que temos conhecido, amado,
assistido neste mundo, vêm auxiliar o moribundo a se desembaraçar
das últimas correntes do cativeiro terrestre.
Nessa hora solene, as faculdades aumentam, a alma,
meio desligada, se dilata; ela começa a entrar na sua atmosfera
natural, a retomar sua vida vibratória normal, e é por isso que,
nesse instante, revelam-se em alguns moribundos fenômenos
curiosos de mediunidade.

Leon Denis                     " O Grande Enigma "

Deixe seu comentário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário ou dúvida. Terei prazer em respondê-lo.